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O ministro, os pobres e os paupérrimos

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Aclamado por empresários e seguidores do pensamento liberal, com embasamento na "escola de Chicago" e trajetória de sucesso nas finanças, o senhor Paulo Roberto Nunes Guedes foi apontado desde antes da eleição como poderoso ministro. Para ele montaram robusto Ministério da Economia, englobando fazenda e planejamento e absorvendo áreas sociais sensíveis como previdência social e trabalho. Ficaram claros o poder do ministro e as prioridades do governo.

Fluente na retórica, contumaz nas alegorias, avança em cenários e promessas, todavia, pouco na pauta da economia real e da conjuntura social. Cada proposta tem acobertada malvadeza para a maioria dos cidadãos.

Comporta-se como um mágico que tira soluções agradáveis da cartola, mas tem escondido na manga um custo cruel. No projeto de reforma da previdência, recheou-o de maldades para os menos aquinhoados, como as que atingiriam trabalhadores rurais, pensões menores, o benefício de prestação continuada que socorre pessoas portadoras de deficiência sem meios de sobrevivência, etc.

Previa no horizonte constitucional a mudança do sistema previdenciário para o de capitalização, bem no momento em que os chilenos mergulhavam em grave crise social pelos resultados danosos desse tipo de previdência implantado por lá e que devastou as condições de sobrevivência dos aposentados. Felizmente, o Congresso Nacional mediou questões mais traumáticas e reduziu a carga de desumanidades para com a base social na dita reforma.

Eis que o chefe da Nação, na ansiedade por assegurar-se no poder, descobre que há caminho mais eficaz que conflitos e acenos autoritários: assistir parcela da população que sofre de exclusão ou insuficiência de meios. Lição do auxílio emergencial na pandemia (com o bom senso do Congresso que não aceitou os R$ 200 inicialmente propostos pelo ministro) e que permite ao governo surfar popularidade. E exigiu um programa Renda Brasil que fosse mais robusto que o atual Bolsa Família.

Para ter programa social novo, os recursos devem sair de antigos. Simples assim, o raciocínio do discípulo de Chicago. E acenou acabar com Abono Salarial (Lei 7.998 de 1990, salário mínimo anual para trabalhadores com renda de até dois mínimos), Farmácia Popular (lei 10.858 de 2004, remédios de uso continuado gratuitos ou com desconto) e o Seguro Defeso (Lei 10.779 de 2003, seguro desemprego para pescadores profissionais artesanais no período necessário para reprodução e preservação de espécies). Somados ao programa Bolsa Família, resultariam na verba necessária para a novidade na área social.

Proposta tão absurda nos efeitos permitiu ao Primeiro Mandatário fazer, enfim, a grande frase de seu governo, marcado por "porrada" e outros despautérios: "Não posso tirar do pobre para dar ao paupérrimo". Feliz definição para a sugestão do ministro e equipe, assim sepultada. Todavia, aguardemos: novas malvadezas virão.



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